segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Fomos

E a gente erra de novo os mesmos erros. Talvez pra ter certeza de que nunca foram os certos mesmo. Nas insistências, os devaneios de que a vida pode, de repente, ser diferente e nos fazer sorrir para os repetidos e antigos sonhos. Equivocados, mal pensados, desastrosos. Sinceros arrependimentos de alguns poucos segundos que deixam de existir nas lembranças dos quereres bem vividos, esperados por milênios, séculos, década(s)...
Sentimentos que não dependem de mais de um para serem belos. O fim da eterna espera pelo que sempre houve além de mim, além de você. Que se desfez nos nós. Desatados, a sós na multidão de apenas dois. Carregando as mesmas certezas de outrora, permaneço na ansiedade e inerte diante do que nunca virá. Sofro, e, ainda assim, não te maldigo pelas promessas incumpridas e muito menos a mim por essa credulidade cega. Não, não me acostumei, só aprendi que a gente é todo esse pouco indispensável. Somos esse tanto de todas as possibilidades do que, provavelmente, jamais acontecerá.


segunda-feira, 25 de agosto de 2014

O oposto do que um dia fui

Aconteceu muita coisa nos últimos 2 anos. Muitas coisas muito ruins. Outras boas. Nenhuma excepcionalmente maravilhosa. Talvez uma, que depois dissipou nas tristezas que se seguiram. Difícil lembrar dos momentos felizes quando a gente se depara com tantos percalços. Não acho que seja meritocrático esse processo. Convivo dolorosamente com o exemplo de que ser bom não isenta dos maus desígnios. É da vida, é o destino, é Deus. 
Nesse caminho tortuoso, conheci (e redescobri) muita gente que fez a vida ficar mais suportável, e até leve, apesar de tudo e de todos os outros. Mas perdi muita gente também. Provável que por minha culpa, não descarto essa real possibilidade. Fui criando uma capa. Mudando. Quem conseguiria continuar sendo o mesmo, quem não criaria uma casca sobre aquela que já existia e parecia ter sido desfeita? Quem aguentaria uma nova decepção sem decepcionar também? Ninguém é perfeito, não é mesmo? Não sou mesmo. 
Talvez eu não tenha mais a tão evidente doçura que um dia tive. Talvez o brilho dos meus olhos não seja ainda o de outrora. Sim, eu sou outra, e, de novo, longe de ser perfeita (certamente muito pior que aquela primeira, que também nunca foi). 
Mas não sou o oposto do que um dia fui. Guardo rancores e mágoas que, sinceramente, desejo um dia esquecer. “Se desprender é um esforço consciente”. E eu tento isso todo dia que acordo. 
Toda manhã é um novo deixar pra trás, esquecer, fazer morrer e respirar fundo para renascer.


sexta-feira, 25 de julho de 2014

Quando volta o Sol

O Sol volta e você espana o mofo
Levanta a persiana, abre a janela
Se deixa invadir com a luz amarela
Os olhos ainda cerrados  até a íris acostumar
A quentura morna na pele
O céu de inverno
O mais bonito que há
Nem escaldante e nem frio
Apenas aconchegante, acolhedor
Que cai quase como um abraço de quem se ama
Se afastam as nuvens (se afastem, nuvens)
Deixem o Sol voltar

quinta-feira, 27 de março de 2014

Remorso selado

preciso de caneta para escrever. não tem caneta. não tem papel também. e não tem mais nada além. quer dizer, tem eu. deitada, semi-vestida, na cama azul. cheirando a cerveja. engasgada de tudo. tudo o que, na verdade, sempre foi nada. sempre fui, jamais serei. a certeza da dúvida. o doce talvez. o papel rabiscado e já enviado. o remorso selado. o que não terá jeito de ser apagado mais uma vez.

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Carta para minha mãe em 07-01-14

Eu não sei começar a escrever o que vou dizer aqui. Já chorei. Não durmo. Como pouco. A cabeça dói. Os olhos estão turvos. Gostaria de ser forte. Queria ter um único desejo realizado por seja lá quem tenha poderes pra isso: que nada tivesse acontecido. Nada. Nunca. Meu desejo sempre foi o de te ver feliz. Desde que eu tinha, sei lá, 4 anos e te vi fazendo sacrifícios por nós. Desde que você se anulou em nome do nosso bem. Desde que você fez as suas escolhas com o único intuito de não nos deixar faltar. E você não nos deixou faltar. Você tirou de você por nós. Você sempre foi Mãe, no exato sentido do termo. Tenho esse mesmo desprendimento. Não sei se herdei, não sei se aprendi. Te quero bem e feliz como uma mãe quer ao seu filho, como você quer a nós. Trocamos os papéis. Faz tempo isso. Faz muito tempo. Me coloquei entre você e seu algoz uma vez. Dei eu o basta que você precisava. Não me arrependo de assumir um lado. O lado certo. O lado de quem protege o que importa. De quem tira de si pro bem do outro (porque é até o seu próprio bem). Te amo além das palavras. Te amo além do que o amor pode dizer. Queria poder me colocar entre você e o algoz de agora. Esse que se acha mais ardiloso, muito esperto. Não será. A vencedora nessa história de novo (e sempre) vai ser você. E eu serei seu escudo. Quantas e tantas vezes que se fizer necessário.

Te amo.

Sua Renatinha

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Pretérito imperfeito do indicativo

Quantas histórias de vida se encerram com esse tempo verbal? O inacabado, o não resolvido, o que, provavelmente, não terá uma solução. Por quanto tempo a gente tem que conviver com o ponto e vírgula na cabeça, e, muito pior, no coração? Quando chega a hora de se dar aquele basta? De não ter que aceitar mais a dor, o corte de papel sulfite na ponta do dedo quando você menos esperava.

Por que a gente prefere não terminar? Por que a gente amava como amava (o imperfeito)? O que leva a não desamar? Te desamo. Fim. 

Não tem fim essa coisa de amor, tola. Ela fica lá, te faz pensar, te faz saber, te faz você. Você é todas as pessoas que já amou verdadeiramente. Não importa se a dor já está distante (e uma hora estará), não interessa o que a pessoa fez pra merecer o seu desamor mais sincero. 

Porque, no fundo, o desamor é uma forma de amor também. Te desamo. Como te amava.

Te amo.