Muitas vezes eu me pego pensando, e se eu tivesse um dom? Sempre admirei pessoas com dons: gente que escreve, que sabe cantar, cozinhar, dançar. Eu faço tudo isso do mais ou menos pro mal feito. Ê, frustração. Eu queria, por exemplo, ter escrito esses versos do Chico aí em cima. Mas, mais do que isso, eu queria ser capaz de viver um momento assim, como descrito por ele.
Entender o amor deve ser coisa pra bem poucos, tá longe do que alcança esse QI(zinho) aqui. E, ainda, entender que o amor pode causar tanta alegria e tanta dor ao mesmo tempo é um negócio que está, de fato, muito além da minha capacidade cognitiva. Demoro a compreender esses casais cujo relacionamento dura 10, 20, 30 anos, ou até mesmo uns míseros 6 meses. Acho difícil imaginar conseguir sempre conciliar gostos, desejos, sonhos, loucuras, viagens, desentendimentos, sem, de uma hora pra outra, me perceber uma estranha.
Sei lá, acho absurdo esse sentimento que é capaz de levar a emoções tão extremas em nome de um único e egoísta desejo: ter o objeto amado por perto. É cruel. Mas como eu já disse, entendo nada disso, é como eu vejo. Pode estar errado. Tenho certeza, inclusive, de que está.
Mas, de todos os dons que eu pudesse ter, acho que escolheria o de ficar um pouco mais invisível. Não que eu não esteja nesse momento (e nesse momento em especial), mas gostaria de ser corajosa o suficiente pra me esconder do que me maltrata na tarde ensolarada de um domingo bonito, da banalidade de um sorriso qualquer que, ainda que sem intenção, me iguala e desfigura. É necessária muita coragem pra deixar de ser alguém antes que se vire mais um qualquer. E eu posso ser muitas coisas, mas nunca serei aquilo no que pretendem me transformar.