terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Da coragem que se precisa ter



Muitas vezes eu me pego pensando, e se eu tivesse um dom? Sempre admirei pessoas com dons: gente que escreve, que sabe cantar, cozinhar, dançar. Eu faço tudo isso do mais ou menos pro mal feito. Ê, frustração. Eu queria, por exemplo, ter escrito esses versos do Chico aí em cima. Mas, mais do que isso, eu queria ser capaz de viver um momento assim, como descrito por ele.

Entender o amor deve ser coisa pra bem poucos, tá longe do que alcança esse QI(zinho) aqui. E, ainda, entender que o amor pode causar tanta alegria e tanta dor ao mesmo tempo é um negócio que está, de fato, muito além da minha capacidade cognitiva. Demoro a compreender esses casais cujo relacionamento dura 10, 20, 30 anos, ou até mesmo uns míseros 6 meses. Acho difícil imaginar conseguir sempre conciliar gostos, desejos, sonhos, loucuras, viagens, desentendimentos, sem, de uma hora pra outra, me perceber uma estranha.

Sei lá, acho absurdo esse sentimento que é capaz de levar a emoções tão extremas em nome de um único e egoísta desejo: ter o objeto amado por perto. É cruel. Mas como eu já disse, entendo nada disso, é como eu vejo. Pode estar errado. Tenho certeza, inclusive, de que está.

Mas, de todos os dons que eu pudesse ter, acho que escolheria o de ficar um pouco mais invisível. Não que eu não esteja nesse momento (e nesse momento em especial), mas gostaria de ser corajosa o suficiente pra me esconder do que me maltrata na tarde ensolarada de um domingo bonito, da banalidade de um sorriso qualquer que, ainda que sem intenção, me iguala e desfigura. É necessária muita coragem pra deixar de ser alguém antes que se vire mais um qualquer. E eu posso ser muitas coisas, mas nunca serei aquilo no que pretendem me transformar.

domingo, 20 de janeiro de 2013

A descoberta, a dor e a esperança


Era um dia ansioso, como todos os últimos vinham sendo. O cansaço ali, estampado no rosto miúdo e tenso, não mais muito esperançoso dela. Queríamos tanto uma resposta que nem importava se ela não fosse boa, bastava apenas que fosse acertada, sem mais dúvidas, a lança no alvo.

Nossos meses anteriores não foram, nem de longe, os melhores. De pé em pé, procuramos, buscamos, sofremos. Aquelas salas frias que lhe davam um novo sopro de entusiasmo não eram nunca suficientes para fazer o brilho dos olhos durar mais de uma semana. Ela pifava. E como isso mata quem não tem a competência pra achar soluções para tudo. Não é daquelas coisas que se resolvem com dinheiro, entende? Seria tão mais fácil se fosse. Mas... longe disso.

Enquanto o desespero batia, mais força chegava, e isso tudo na exata e mesma proporção. Recebemos amor e cuidado de gente próxima e de pessoas que nunca vimos e, provavelmente, nunca vamos conhecer. Gente - no melhor e mais bonito sentido do termo - que teve até mais fé que nós, acho que muitas vezes tiveram fé POR nós e nos fizeram ficar de pé. Nunca acreditamos que não seria nada, algo havia, mas sabe aquela crença do: "no final vai dar certo"? Ela chegou por meio de quase anônimos muitas, muitas, muitas e muitas vezes. Eu, aí falando só por mim mesmo, agradeço com lágrimas nos olhos.

Até que o dia da resposta chegou. Num desajeito próprio meu, acabei dizendo da pior maneira e corremos as duas, juntas, ao encontro dela. Não sou capaz de verbalizar o que senti no momento em que soube que a pessoa mais importante da minha vida ainda, e depois de tudo, teria tanto a enfrentar. E sabe o que ela fez quando nos viu? Sorriu, sentada numa mesinha de um restaurante num shopping qualquer, e nos convidou pra almoçar. Assim, singela, foi nos acalmando. Tornando aquele momento difícil num encontro de amigas. Inacreditável.

Hoje, quase 2 meses depois, tudo continua difícil, dolorido, mas a fé e a certeza de que tudo vai ficar bem é absolutamente inabalável. Outra coisa que não mudou foi a calma da moça de rosto miúdo. Ainda tenso, mas manso também.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Caneta em papel

Há quanto tempo não sabia o que era colocar caneta em papel. Não daquelas escritas medíocres do dia a dia, aqueles rabiscos da lista de tarefas ou de compras. Caneta em papel com sentimento, com uma vontade praticamente incontrolável de se dizer mais do que disse. Contida, porém lançada às linhas a sensação de entrega plena.

Despejar tinta é coisa séria, não se faz assim mais a quem não muito mereça. Àquele que dá o nó da garganta, sim. Nunca menos que isso. Aos outros, o bom e velho e-mail, impessoal, que dispensa a ansiedade de se saber recebido. A quem se ama, os papéis amassados, a letra trocada sem querer, o rabisco desajeitado, o arremate na fila do envio, a imperfeição. Já a quem ama, o receio de se fazer entender.

Há muito tempo não escrevia uma carta. Mas resolvi escrever. E, apesar de enferrujada, busquei emprestar à folha de papel do bloco das banalidades tudo de melhor que havia em mim. Falhei porque disse menos, mas venci porque ao menos disse. E quem verdadeiramente merece um tanto de tinta azul em papel branco entende além das linhas escritas, enxerga o sentimento, enxerga vida. E, o mais importante, retribui do jeito mais inesperado e bonito que possa haver.

Prefiro sempre: caneta em papel.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Carta


E aí chega uma hora que você aprende que se entregar e ser inteira é melhor. Ainda que possa doer um dia, ainda que você sofra, ainda que tudo pareça errado. Essa hora chega junto com a maturidade de se conhecer e entender (ou tentar) seus sentimentos. 

Há cerca de 4 anos eu tinha 25. Hoje nem sei mais. O tempo passou bem mais rápido que aquelas horas que só tiquetaqueiam no relógio. Tão rápido que as lágrimas atiradas pelo que aconteceu secaram no vento forte e hoje são só um sal adocicado, leve, grudado no rosto e uma breve vermelhidão do branco dos olhos. Passou, mas nem tanto. Ainda assim, passou. 

Quem um dia importou tanto, hoje nem mais falta faz. E, ironia dessa vida, exatamente no momento em que alguém se dá conta disso, o tal do arrependimento sincero (?) se faz presente. Justo naquele segundo, daquele minuto, daquela hora corrida já não mais tão depressa, no qual você percebeu que aquilo não significa mais. Não significa, não importa, não nada. 

Você só quer a sua paz. Eu só quero a minha. Assim, cada um na sua, sem se obrigar a nada mais, mesmo porque quem exigiu e forçou isso foi você, entenda. E eu compreendi, calei, fugi. Foi difícil, mas eu sobrevivi. Mas, não, e. Foi difícil E eu sobrevivi. Sem ajuda, sem você. Sem nós mais. Sem nada a atar ou desatar. Aceite.

Eu aceitei. E, como disse lá em cima, cresci, mudei, aprendi. Sou outra. Sou outras. E luto brava e diariamente pra continuar quem sou. Difícil manter a crença nas pessoas depois de tudo e todos. Quem nunca sofreu pelo incondicional amor inexistente nem imagina o que é isso. Nem sonha com a sensação de desconfiar até da sombra, e, apesar disso (ou talvez por isso), conseguir se reerguer e recuperar a fé. Nas pessoas e em si próprio. Essa última muito mais complicada e condição pra se ter a primeira. Eu recobrei a minha. Nos dois casos. E continuo aí, pra quebrar a cara de novo e de novo. Mas nunca mais sem ser inteira. 

Ainda que eu seja a única nessa condição.

Um abraço.