Desce da barca. Continua falando. Falar pelos dedos é o que mais faz. Melhor do que pronunciar e se ouvir dizer o que verdadeiramente a apavora. Esconde ali, enquanto desabafa por caracteres, o que a aflige. Toma o ônibus. Dessa vez rindo, os olhos semifechados, ainda inchados da angústia incontida da tarde. Às vezes é impossível ser forte mesmo, aguenta, tenta, já você consegue de novo. Se diz. E avança. Opa, aonde você foi parar, que lugar é esse. Ta louca. Ri, ri muito de si mesma. Olha pela janela e pensa se vai ter coragem de descer no meio do nada, parece hostil. Mas é brava, quantas vezes já se embrenhou e desbravou o desconhecido, vai ter medinho agora. Não vai, nunca foi dessas. Desce de novo. Se concentra e procura nomes familiares. Encontra, sem certeza. Arruma a convicção. Finge segurança e anda.
quarta-feira, 30 de setembro de 2015
segunda-feira, 7 de setembro de 2015
Transbordo
No geral, eu escrevo aqui pra mim. Pra colocar pra fora, regurgitar, dizer o que não tenho coragem de expressar pessoal e diretamente. Que difícil ser 100% honesta. E isso não só com o outro, mas comigo mesma também.
E, nessa mudez, vou encolhendo, me escondendo, camuflando, guardando tanto pra mim (e de mim) que uma hora transbordo. E o transbordo, no geral, tem o efeito contrário ao que eu pensava desejar. De uma hora pra outra, fico nua, viro água cristalina num rio estranhamente calmo e fértil.
Esse refúgio, oásis de ar puro e leve que aparece de tempos em tempos, impede o gatilho da implosão, afasta a faísca do gás, arranca (com uma fina ironia) o oxigênio do ar.
Diante disso, me resta o ser, o estar e, principalmente, o dizer. Sem precisar muito entender, mesmo porque se decifrar demais deve ser dos mais pesados fardos a se carregar.
Prefiro manter a leveza dos apesares, essa que renasce a cada gesto sincero de quem se propõe a estender a mão e enxergar com os melhores olhos tudo o que sempre esteve aqui, dentro de mim.
E que transborda de quando em quando.
E, nessa mudez, vou encolhendo, me escondendo, camuflando, guardando tanto pra mim (e de mim) que uma hora transbordo. E o transbordo, no geral, tem o efeito contrário ao que eu pensava desejar. De uma hora pra outra, fico nua, viro água cristalina num rio estranhamente calmo e fértil.
Esse refúgio, oásis de ar puro e leve que aparece de tempos em tempos, impede o gatilho da implosão, afasta a faísca do gás, arranca (com uma fina ironia) o oxigênio do ar.
Diante disso, me resta o ser, o estar e, principalmente, o dizer. Sem precisar muito entender, mesmo porque se decifrar demais deve ser dos mais pesados fardos a se carregar.
Prefiro manter a leveza dos apesares, essa que renasce a cada gesto sincero de quem se propõe a estender a mão e enxergar com os melhores olhos tudo o que sempre esteve aqui, dentro de mim.
E que transborda de quando em quando.
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