segunda-feira, 12 de outubro de 2015

Silêncios

Do silêncio que constrange, machuca, que grita alto e impede de dividir. Desse que faz com que o amor desinvada, encolha, não mereça, sequer, um porvir. O silêncio que fala sobre o que deixou de ser, que se transmuta no extremo oposto, na frivolidade do não sentir, do não querer, da ignorância de tudo que levou ao nada que é agora esse lugar.
A mudez daquilo que acaba, do que faltava pra ser feliz. Pra ser um e não dois, um em cada um, inteiros que não mais se somam, que não pretendem repartir. Repelem-se, desencaixam, desfazendo laços, aumentando espaços, abandonando os sonhos no cansaço, revelando as diferenças do sentir.

E o silêncio dos que se sabem, dos que, num só toque, percebem que o amor nunca se foi dali. O silêncio que aconchega e se projeta nessa imagem: nossa respiração, minha cabeça pousada sobre o seu peito, no leito acolhedor. Sem maiores adornos ou adjetivos - eles nunca serão necessários -, o puro e simples desejo de existirem juntos, um dia.
Sentir-se livre para não dizer e, justo aí, se fazer entender, se despir. Perceber que o suporte do amor está no alívio de ter consigo o apoio do outro. E com o outro o seu próprio. A tão desejada reciprocidade do bem querer. E o silêncio como um fim e um meio para alcançar esse ideal que pode nunca vir, mas, mesmo só na imaginação, alivia.

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