sexta-feira, 25 de outubro de 2013

(Des)aprendi

De um tudo acontece nessa vida
E pra que serve esse tudo, senão para (des)aprender?
(Des)aprendi a ser eu
Em nome do quê? Nem imagino.
Imposições alheias a mim,
ironia, mostraram exatamente o que tenho por dentro.
(Des)aprendi o que é mentir 
e senti na pele as consequências disso.
(Des)aprendi o que são amigos,
e como eles se fazem,
e porque se mantêm
e pra que servem os seus abraços.
(Des)aprendi, também, que quase tudo o que só parece, na realidade, não é
– e nem nunca foi.
(Des)aprendi o que é real.
E o que não é.
(Des)aprendi e só.
E tirei lição nenhuma disso, a não ser as que devo esquecer.
(Des)aprendi o que um dia fui.
Mas voltei ao que sempre serei.

domingo, 20 de outubro de 2013

A verdade

A verdade é que estou machucada, com a ferida aberta. Sou um cachorro encolhido embaixo do armário, eu desconfio de tudo, de todos. Sozinha, não quero sua compreensão, seu carinho, seu cuidado. Quero só ficar imóvel, quietinha, sem explicações. E por quê? Porque sou a única responsável pelo que me dói. Porque me deixei lançar ao nada. Literalmente. Me forcei a ser livre sendo esse nada também. E aí tô aqui, não tenho casca, tenho carne exposta e ardendo sob a sombra fria da mobília. Não se sinta culpado, aqui você não importa, aqui você é só um ninguém. Você não pode curar o que não fez, não seja pretensioso. Seja apenas o nada que sempre fez questão de ser, desocupa o que nunca foi seu e devolve o que me roubou.

terça-feira, 17 de setembro de 2013

Sobre mim mesma

Uma peça de encaixe. Não dessas tipo lego, que são todas iguais e só mudam a cor. Imagina assim, um quebra-cabeças de várias dimensões. Melhor ainda, uma engrenagem. Peças que juntas - e isso não significa exatamente coordenadas - vão formando uma coisa maior. Vou chamar de coisa, mas não é pejorativo, acho, é apenas porque ainda não sei no que elas vão se transformar, só sei que viram algo (na realidade, espero que sim). 
Agora me veio à cabeça que poderiam se tornar uma casa. Uma base sólida, retangular, paredes firmes e um telhado para proteger. Mas aí essa que descreve não seria eu. Não seria. Tô à deriva, lembra? Procurando terra firme. 
Aliás, que clichê eu sou, o nome do meu CD favorito. Na realidade, nem isso, sou apenas um amontoado de frases feitas, uma coisa pequena e pouca, aquela peça de encaixe que, sozinha, é somente nada. Desimportante e só, me transformo em coisa nenhuma. E não tô dizendo pra terem pena, não (ainda que esteja bem digna de sentimentos menores por esses tempos). 
Desembaçando a vista, sou um barco velho. Certo, encontrei a imagem que eu estava buscando. Não desses bonitos, imensos que comportam muitas pessoas e vão pros lugares mais distantes e concorridos. Sou de madeira boa ainda (ao menos isso, não é mesmo?) e em mim cabem uns bem poucos. E já que é assim, não se venha fingir de meu tripulante, por favor. Seja digno do pouco que tenho a oferecer e não te desfaça do que te parece nada. 
Enxergue. Tenha bons olhos de apreciar o que pode haver de bonito nos sentimentos, nem tudo que é palpável é real. E, invertida, essa frase fica ainda igual. Não me esqueça. Ou melhor, me esqueça, e faça isso por mim.

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Do que restou (ou: um quase plágio)

todos os posts daquele blog desarrumado
as notícias em primeira mão sem destinatário
duas cartas sem selo que não serão enviadas
um livro pela metade
uma pseudo-escritora sem inspiração
a sensação de entrega plena ao total desconhecido
um ou dois egos esvaziados
o nó na garganta
a segundite maldita
a certeza de que poderíamos ser mais, quem sabe um dia
uma saudade sem limites
essa dor que não para de crescer
o maior e mais difícil amor que já pensei em ter

terça-feira, 27 de agosto de 2013

Dança

Ele não sabe dançar
Mas não imagina que dita a trilha sonora dos meus dias
às vezes tão pulsante e vigorosa que me faz perder o ar, ávido
noutras, calma e vagarosa, daquela que embala o melhor dos sonos,
os reconfortantes, cabeça no peito, aconchego, proteção e abraço
em muitas (na maioria, aliás), agoniante, desesperadora
quase um grito no silêncio das duas da manhã de uma noite fria de segunda.
Mas eu o ensinaria a dançar. Ele aprenderia o meu ritmo, que, em um instante, seria o nosso, único.
Nenhuma cadência rebuscada, o mais simples um dois três
nossos passos seriam tão triviais e desimportantes que se tornariam os mais lindos de toda a existência
sem qualquer motivo, entenderíamos que, assim como na dança, a beleza do que se sente está apenas no sentir, no se deixar levar
E aí nos levaríamos juntos. Eu a ele e ele a mim.

terça-feira, 20 de agosto de 2013

Não sei lidar

Não sei lidar com esse vazio que me enche inteira da falta que você me faz
Não consigo compreender que sua ausência rotineira me faz distante de mim mesma 
e coloca à prova a cada minuto tudo aquilo que a gente conquistou
Da mesma forma, não consigo mais lutar contra quem me tira da mediocridade, 
vê como extraordinário o meu mais batido clichê e me quer inteira, além do que a imaginação criou
Não entendo esse longe-perto, esse aqui-aí, esse embaçado dos olhos que geram as palavras sempre ditas na íntegra, tudo o que nos representa. 
Amor que não se abrevia porque incansável e incurável.
Sou eu. Sou você. Sou nós. E nem sei porque, mas sou.


quarta-feira, 17 de julho de 2013

E você?

Você tem coragem?
Você tem coragem pra fazer o que tem que ser feito?
Você tem coragem pra dizer o que deve ser dito?
Você tem coragem de ouvir?
Você tem coragem pra correr risco?
Você tem coragem de assumir quem você é?
Você tem coragem de pedir desculpas?
Você tem coragem de aceitar quando te pedem?
Você tem coragem?
Você é covarde?

O alcance da promessa


É o que me interessa (Lenine)

Daqui desse momento
Do meu olhar pra fora
O mundo é só miragem
A sombra do futuro
A sobra do passado
Assombram a paisagem.

Quem vai virar o jogo
E transformar a perda
(...)
Quando eu olhar pro lado
Eu quero estar cercado
Só de quem me interessa.

Às vezes é um instante
A tarde faz silêncio
(...)
Às vezes eu pressinto e é como uma saudade
De um tempo que ainda não passou
(...)
Atrasa (...)
(...) a minha pressa
(...)
Sussurra em meu ouvido
Só o que me interessa.

A lógica do vento
O caos do pensamento
(...)
A órbita do tempo
A pausa do retrato
A voz da intuição
A curva do universo
A fórmula do acaso
O alcance da promessa
(...)
(...) o infinito
Só o que me interessa.

terça-feira, 9 de julho de 2013

Sobre ser um bom lugar

Um bom lugar tem calma e aconchego
e uma rede pra descansar os pés
pode ter uma praia ao longe
assim, só pra olhar e se sentir bem.
Tem cheiro de terra molhada
e o frescor da brisa da manhã.
Um bom lugar nem precisa de mim ou de você
mas daquilo que nos faz melhor.
E, desse jeito, um bom lugar pode ser aqui, aí
pode ser qualquer lugar.

domingo, 7 de julho de 2013

...

o olho incha
a cabeça dói
a vista enturva
o tempo empurra
o amor murcha
o momento mói
a tentativa esgota
o escorpião desiste
a vida muda
fim.

segunda-feira, 1 de julho de 2013

Esperando

Muito certamente, a pior das sensações que há na vida é a espera por quem não ficou de chegar. A promessa que se entende na entrelinha e que se dá por certa no meio dos sentimentos e das palavras que nunca foram pronunciadas.
Ouvi outro dia, num lugar qualquer, que quem consegue traduzir o que sente em palavras não sente de verdade. Não digo, logo sinto. Você não fala, interpreto. Planejo, teatralizo. E, de repente, estou no meio daquilo que nunca esperaria estar.
Estou em pedaços, em partes espalhadas, esperando aquela promessa tola que minha cabeça inventou. Desejo que você materialize ali, no meio do quarto vazio das coisas esquecidas, onde só tem eu jogada: invisível, impossível, incompreendida.
Busco o que vai me salvar, me aconchegando ao que não existe, ao que nunca será, a quem não ficou de chegar.

quinta-feira, 13 de junho de 2013

oi, ta aí?


Ela está digitando...
oi, ta aí?
queria dizer isso logo, acho que vou dizer mesmo sem vc estar
explicar o que sinto.
é difícil
sinto falta
e ai sinto falta em todos os meios
e ai nao entendo
e ai me fecho
mas te amo
e mais te amo também

Ele está digitando...
e me ama também?
e me ama mais?
comigo é assim: eu te amo.
dai a gente se ama
e eu acabo te amando mais

terça-feira, 4 de junho de 2013

domingo, 12 de maio de 2013

Esse é só o (re)começo



Minha vida é feita de recomeços. Sempre foi. Fiz um mapa astral certa vez e descobri que, além de se tratar dos desígnios celestiais pré-traçados, tinha a ver com o meu nome também. Renata = renascida, ou: aquela que renasce. Nunca imaginei, no entanto, que teria, ainda, uma carga genética nessa minha, digamos, característica.

Muitas vezes a gente tenta entender o porquê de determinadas coisas acontecerem. Por que somos escolhidos, de alguma forma, para passar por barras mais pesadas que outras pessoas, ou, ainda muito pior, por que gente que amamos mais do que a nós mesmos tem que sofrer com essa escolha inapropriada feita por sei lá quem? Tenho me feito essa pergunta todos os dias e sinto que nunca vou encontrar a resposta. Entre aprender o que esse sofrimento todo tem imposto e permanecer na ignorância do que, de fato, importa na vida, preferia, muito sinceramente, me manter inocente. Não por mim, mas por ela.

Ver quem a gente sempre protegeu e amou sofrendo, lutando, sentindo dor e não poder fazer nada além de pegar um remédio, dar um abraço, contar uma piadinha besta é de uma sensação de impotência absurda. É como, de uma hora pra outra, não ter os dois braços, é um aleijamento, uma incapacidade quase física. Ao mesmo tempo, é um aprendizado absurdo e inerente a tudo o que estamos passando. 

Aprender, basicamente, a dar valor ao que interessa. E, mais que isso, entender que não importam muito os motivos que levaram tudo a acontecer, mas que união, amor e fé independem de razões mesmo. Não há o que racionalizar porque estamos aqui pra sofrer, lutar e sentir essa dor juntas. Porque é disso que é feito o amor e é esse o sentimento que nos move.

Renasço amanhã. Ou melhor, a partir de amanhã. Na realidade, fisicamente, quem renasce é ela. E é reviver mesmo, apagar o que passou, Lacuna Inc., control alt del.

É tudo novo de novo.

sexta-feira, 1 de março de 2013

À Laura.

E aí que somos inconsequentes. Insensatos. Equivocados. E no meio dessa loucura toda da qual, simplesmente, não damos conta sozinhos, trazemos mais uma nova pequena e indefesa pessoinha pra passar por esse mundo de insanos. Meu Deus, por quê? Para quê? Para onde? 

Para nós. 

Para mais do que nós, para além de nós, para ensinar a todos nós. Em um diminuto pedacinho de gente depositamos a esperança de toda uma vida, a crença de que somos fortes o suficiente para impedir que qualquer mal aconteça. Ledo engano, não temos controle nem sobre o que de bom acontece, que dirá impedir os maus desígnios. Ou mesmo entender a função que eles tem sobre nós, sobre os outros, sobre a inocência, sobre o amor. 

Amor.

Amor que pulsa - e pulsa descontroladamente - em uma só direção e pretende somente um objetivo, tem apenas um querer bem. E tá ali, pequenina, bem feita, olhos pretos, cabelos fartos. Toda uma vida inteira a ser plena, amada, amável, única:

A pequena princesa guerreira. A Laura.




terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Do que vira dor


Quando um sentimento vira uma dor física daquelas que te machucam por dentro. Tanto  - e tão forte - que você imagina como uma agulha de costura presa entre a unha e a pele, que nem chega a sangrar, mas dói na alma. 

É a sensação que vem da desproteção milimetricamente calculada. Do: "você sabe aonde está se metendo?" ou do: "eu te avisei" que sempre acompanham aqueles que te querem bem, e, ainda assim, nunca são suficientes para te impedir de cometer os deslizes (des)necessários da vida. 

Deslizes tão óbvios, tão claros, que me pergunto como não os havia cometido antes. Ou até cometi, no entanto, hoje fazem tão pouco sentido, que é como se não tivessem acontecido. Eles vêm da entrega mais equivocada e inocente que se tem conhecimento, vêm daquilo mais bonito que a gente possui e que tentam extirpar.

E viram essa dor que tá aqui agora (e só aumenta). Que, de uma hora pra outra, deixará de ser essa pra virar outra e outra e outra.

E outra.

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Da coragem que se precisa ter



Muitas vezes eu me pego pensando, e se eu tivesse um dom? Sempre admirei pessoas com dons: gente que escreve, que sabe cantar, cozinhar, dançar. Eu faço tudo isso do mais ou menos pro mal feito. Ê, frustração. Eu queria, por exemplo, ter escrito esses versos do Chico aí em cima. Mas, mais do que isso, eu queria ser capaz de viver um momento assim, como descrito por ele.

Entender o amor deve ser coisa pra bem poucos, tá longe do que alcança esse QI(zinho) aqui. E, ainda, entender que o amor pode causar tanta alegria e tanta dor ao mesmo tempo é um negócio que está, de fato, muito além da minha capacidade cognitiva. Demoro a compreender esses casais cujo relacionamento dura 10, 20, 30 anos, ou até mesmo uns míseros 6 meses. Acho difícil imaginar conseguir sempre conciliar gostos, desejos, sonhos, loucuras, viagens, desentendimentos, sem, de uma hora pra outra, me perceber uma estranha.

Sei lá, acho absurdo esse sentimento que é capaz de levar a emoções tão extremas em nome de um único e egoísta desejo: ter o objeto amado por perto. É cruel. Mas como eu já disse, entendo nada disso, é como eu vejo. Pode estar errado. Tenho certeza, inclusive, de que está.

Mas, de todos os dons que eu pudesse ter, acho que escolheria o de ficar um pouco mais invisível. Não que eu não esteja nesse momento (e nesse momento em especial), mas gostaria de ser corajosa o suficiente pra me esconder do que me maltrata na tarde ensolarada de um domingo bonito, da banalidade de um sorriso qualquer que, ainda que sem intenção, me iguala e desfigura. É necessária muita coragem pra deixar de ser alguém antes que se vire mais um qualquer. E eu posso ser muitas coisas, mas nunca serei aquilo no que pretendem me transformar.

domingo, 20 de janeiro de 2013

A descoberta, a dor e a esperança


Era um dia ansioso, como todos os últimos vinham sendo. O cansaço ali, estampado no rosto miúdo e tenso, não mais muito esperançoso dela. Queríamos tanto uma resposta que nem importava se ela não fosse boa, bastava apenas que fosse acertada, sem mais dúvidas, a lança no alvo.

Nossos meses anteriores não foram, nem de longe, os melhores. De pé em pé, procuramos, buscamos, sofremos. Aquelas salas frias que lhe davam um novo sopro de entusiasmo não eram nunca suficientes para fazer o brilho dos olhos durar mais de uma semana. Ela pifava. E como isso mata quem não tem a competência pra achar soluções para tudo. Não é daquelas coisas que se resolvem com dinheiro, entende? Seria tão mais fácil se fosse. Mas... longe disso.

Enquanto o desespero batia, mais força chegava, e isso tudo na exata e mesma proporção. Recebemos amor e cuidado de gente próxima e de pessoas que nunca vimos e, provavelmente, nunca vamos conhecer. Gente - no melhor e mais bonito sentido do termo - que teve até mais fé que nós, acho que muitas vezes tiveram fé POR nós e nos fizeram ficar de pé. Nunca acreditamos que não seria nada, algo havia, mas sabe aquela crença do: "no final vai dar certo"? Ela chegou por meio de quase anônimos muitas, muitas, muitas e muitas vezes. Eu, aí falando só por mim mesmo, agradeço com lágrimas nos olhos.

Até que o dia da resposta chegou. Num desajeito próprio meu, acabei dizendo da pior maneira e corremos as duas, juntas, ao encontro dela. Não sou capaz de verbalizar o que senti no momento em que soube que a pessoa mais importante da minha vida ainda, e depois de tudo, teria tanto a enfrentar. E sabe o que ela fez quando nos viu? Sorriu, sentada numa mesinha de um restaurante num shopping qualquer, e nos convidou pra almoçar. Assim, singela, foi nos acalmando. Tornando aquele momento difícil num encontro de amigas. Inacreditável.

Hoje, quase 2 meses depois, tudo continua difícil, dolorido, mas a fé e a certeza de que tudo vai ficar bem é absolutamente inabalável. Outra coisa que não mudou foi a calma da moça de rosto miúdo. Ainda tenso, mas manso também.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Caneta em papel

Há quanto tempo não sabia o que era colocar caneta em papel. Não daquelas escritas medíocres do dia a dia, aqueles rabiscos da lista de tarefas ou de compras. Caneta em papel com sentimento, com uma vontade praticamente incontrolável de se dizer mais do que disse. Contida, porém lançada às linhas a sensação de entrega plena.

Despejar tinta é coisa séria, não se faz assim mais a quem não muito mereça. Àquele que dá o nó da garganta, sim. Nunca menos que isso. Aos outros, o bom e velho e-mail, impessoal, que dispensa a ansiedade de se saber recebido. A quem se ama, os papéis amassados, a letra trocada sem querer, o rabisco desajeitado, o arremate na fila do envio, a imperfeição. Já a quem ama, o receio de se fazer entender.

Há muito tempo não escrevia uma carta. Mas resolvi escrever. E, apesar de enferrujada, busquei emprestar à folha de papel do bloco das banalidades tudo de melhor que havia em mim. Falhei porque disse menos, mas venci porque ao menos disse. E quem verdadeiramente merece um tanto de tinta azul em papel branco entende além das linhas escritas, enxerga o sentimento, enxerga vida. E, o mais importante, retribui do jeito mais inesperado e bonito que possa haver.

Prefiro sempre: caneta em papel.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Carta


E aí chega uma hora que você aprende que se entregar e ser inteira é melhor. Ainda que possa doer um dia, ainda que você sofra, ainda que tudo pareça errado. Essa hora chega junto com a maturidade de se conhecer e entender (ou tentar) seus sentimentos. 

Há cerca de 4 anos eu tinha 25. Hoje nem sei mais. O tempo passou bem mais rápido que aquelas horas que só tiquetaqueiam no relógio. Tão rápido que as lágrimas atiradas pelo que aconteceu secaram no vento forte e hoje são só um sal adocicado, leve, grudado no rosto e uma breve vermelhidão do branco dos olhos. Passou, mas nem tanto. Ainda assim, passou. 

Quem um dia importou tanto, hoje nem mais falta faz. E, ironia dessa vida, exatamente no momento em que alguém se dá conta disso, o tal do arrependimento sincero (?) se faz presente. Justo naquele segundo, daquele minuto, daquela hora corrida já não mais tão depressa, no qual você percebeu que aquilo não significa mais. Não significa, não importa, não nada. 

Você só quer a sua paz. Eu só quero a minha. Assim, cada um na sua, sem se obrigar a nada mais, mesmo porque quem exigiu e forçou isso foi você, entenda. E eu compreendi, calei, fugi. Foi difícil, mas eu sobrevivi. Mas, não, e. Foi difícil E eu sobrevivi. Sem ajuda, sem você. Sem nós mais. Sem nada a atar ou desatar. Aceite.

Eu aceitei. E, como disse lá em cima, cresci, mudei, aprendi. Sou outra. Sou outras. E luto brava e diariamente pra continuar quem sou. Difícil manter a crença nas pessoas depois de tudo e todos. Quem nunca sofreu pelo incondicional amor inexistente nem imagina o que é isso. Nem sonha com a sensação de desconfiar até da sombra, e, apesar disso (ou talvez por isso), conseguir se reerguer e recuperar a fé. Nas pessoas e em si próprio. Essa última muito mais complicada e condição pra se ter a primeira. Eu recobrei a minha. Nos dois casos. E continuo aí, pra quebrar a cara de novo e de novo. Mas nunca mais sem ser inteira. 

Ainda que eu seja a única nessa condição.

Um abraço.